16 junho 2007



Soneto


Senhora, eu trajo o luto do passado,
Este luto sem fim que é o meu Calvário
E anseio e choro, delirante e vário,
Sonâmbulo da dor angustiado.


Quantas venturas que me acalentaram!
Mau peito, túm’lo do prazer finado,
Foi outrora do riso abençoado,
O berço onde as venturas se embalaram.


Mas não queiras saber nunca, risonha,
O mistério d’um peito que estertora
E o segredo d’um’alma que não sonha!


Não, não busques saber por que, Senhora,
É minha sina perenal, tristonha
- Cantar o Ocaso quando surge a Aurora.

Augusto dos Anjos

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