25 fevereiro 2009

O anônimo

Acordava sempre na mesmo hora, repetia sempre todo seu ritual de preparamento milimetricamente cronometrado por natureza.A rotina não era ruim.
Agradava.
Por que se importar por algo predestinado? O cheiro da fila do pão matinal tinha gosto de lembrança de quando a infância era eterna. A melodia sussurrada ainda o fazia lembrar dos sonhos que tinha em si e que sutilmente depositava nela, mesmo sem nada em troca.
Infantilidade.
Talvez até desse certo se as circunstâncias não o tivesse transformado no lobo da estepe. Era sempre assim, vivendo o hoje com a cabeça no passado. Há quem o chamasse de introspectivo.
Besteira-verdade.
Afinal, era assim que se sentia sempre a caminho do trabalho. Do que mais poderia ser chamado um ser de trinta e três anos que ainda vivia na década 70 e sofria com todo e qualquer tipo de adaptações. Gostava mesmo da sua casa retrô, de suas fitas vhs, de seus discos e de seu visual não tão bem aceito. Sabia que nunca seria outro que não o mesmo. Não entendia como a vida funcionava com tantos botões e falsas tecnologias.
Quem se habilitaria a o explicar?
Sempre preferia o manual, o cuidado na produção, e não por coincidência trabalhava na pequena fábrica de peças. Por anos torceu parafusos, porcas e afins, sempre no seu mais mórbido e majestoso silêncio, contrário a seu cérebro que o levava onde quisesse.
É a sua vida.
Naquele dia cumpriu o ritual de sempre.Observou as pessoas, as lojas, o céu em direção ao trabalho.
Entrou.
Alguma coisa havia mudado, o porteiro não estava na guarita esperando seu aceno. Continuou em direção a seu posto a passos lentos de sempre. O que era aquilo?? Uma invasão de ferro e alumínio contorcidos inescrupulosamente banhado a cromo ocupava o SEU lugar.
Lugar que era só dele e de mais ninguém há anos. Era invasão demais a quem chamavam de antiquado. Com devaneios nos pés apressados saiu daquele lugar.
Não poderia ficar ali, era insuportável.
Assim pensava quando um forte ruindo motorizado rasgou seus pensamentos.
Não exitou a mover um único músculo, exceto o de seus olhos para ver o céu tomado por um enorme anúncio publicitário monopolista.
Aquele não era mais o seu mundo, muito menos sua vida.

22 fevereiro 2009

Sem sentimentos

Eu passo essa impressão, é um problema que eu não sei lidar muito bem. Pode ser alguma desordem genética, síndrome ou seja lá o que for.
Por exemplo, não sei reconfortar ninguém, não sei o que dizer, não costumo tocar muito nas pessoas, em situações como abraços e beijos, mesmo cordiais, eu não sou muito de tomar a iniciativa

Largada


Eu sou uma pessoa largada, normalmente, mas dias de domingo com chuva como este, as coisas parecem que pioram. Tudo piora...
A vontade de não sair do pijama, de ficar embaixo das cobertas assistindo um filme legal quem sabe com uma companhia agradável. Parecendo cena de filme.
Esse domingão não é beeem assim pra mim. Mas a gente finge que é legal estar só, tenta não se sentir culpada por não ter nem tocado num livro e passa longe do espelho pra não ver a altura do cabelo enquanto eu mesmo me fiz cafuné.
O famoso bloco do Eu sozinho, tá rolando solto por aqui hoje.
E eu, bom...
Eu fiquei vendo a banda passar.