16 outubro 2010

Desordem

Não é sem pesar o coração que me lembro do teu olhar, mesclado pela eterna presença do sono, com a intransigência de querer ler-me sem pudores.Não é sem pesar que recordo-me daquela canção que tocou ocasionalmente no meu amanhacer.
A voz grave do cantor a recitar o espelho que era o olhar da mulher amada, me faz lembrar da vez, que enquanto eu estava a contemplar a lua, você me disse querer comprar um manual de mim, do meu olhar. Pois sim, sou meu olhar, e penso que se você não o decifrou, não me conhece, de fato. Meus olhos são quem sou, mostram como estou e com certeza gastaram horas a fio a tentar decorar todos os teus traços. E como o fez bem feito.Tanto tempo depois ainda de longe consegui te reconhecer, não sei se por insitinto de quem amou tanto, ou por pura sorte, lá estava você. E quis te dizer que naquele momento, o destino tinha tomado um rumo tão desejado, e até mesmo sonhado. Estive recordando-me muito do passado. E alí, naqueles segundos que passei por você, fui capaz de ouvir sua voz indo bem fundo na minha alma.Lembra? Lembra daquela vez que me chamou de boba? De fato eu era, ou talvez ainda seja e ninguém mais teve a coragem de dizê-lo.Fui capaz até de lembrar da sua risada. Me encanto tanto com a capacidade que meu corpo tem de lembrar de você, pois até a pele demonstrou saudades de seu toque. Que loucura! Fomos uma loucura, essa é a verdade! Mas o que é vida, se não, uma acúmulo de loucuras? De sensações. De desejos saciados. De respirações descompassadas. De beijos apressados. De promessas curtas. De olhares eternamente profundos. A solidão é só consequência da inconsequência tentando organizar-se.
Eu gosto mesmo é dessa entropia destruidora de perfeccionismos.

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